
Prédicas
Prédica de Edgard Leite no Grande Templo, 2 de fevereiro de 2018
Prezados amigos,
É significativo e inspirador que as atividades religiosas regulares do Grande Templo recomecem neste Shabat, em que se lê a parashá Yitrô.
Esta parte da Torá é essencial: trata do momento em que o povo de Israel, em frente ao monte Sinai, posicionou-se diante da glória de Deus. E ali escutou os Dez Mandamentos.
Esse encontro confirmou, mais uma vez, a promessa feita por Deus aos patriarcas. E, nele, Deus reafirmou seu compromisso com os descendentes de Jacó:
“se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós sereis um reino de sacerdotes e um povo santo” (Ex 19:5-6)
Está aqui escrito que Deus é o senhor de tudo. E que devemos ter, todos, um compromisso com a Sua palavra. Guardiões somos, de seus princípios. Princípios eternos, consagrados também pelo nosso entendimento.
Este era o compromisso daqueles que fundaram este Grande Templo e, por isso, ele continua vivo, e renasce. Porque possui fundamento nessas sólidas e sagradas raízes, na fala de Deus no Sinai.
Diz Deus que, em função de nossas atitudes, podemos alcançar a grandeza necessária para sermos o que devemos ser: “um povo santo”.
Isto é, pessoas crescentemente livres dos sofrimentos deste mundo, e cujas almas se elevam a um nível superior de espiritualidade. E cujas ações externas expressam essa intimidade redimida.
O serviço sinagogal reproduz, de forma mística, esse momento do Sinai, essa jornada, histórica e interior, pela qual nos aproximamos do Criador, de sua glória, através da elevação de nossa consciência.
A Torá, no Aron Hakodesh, representa, dentro da liturgia, essa presença. Que está assim descrita:
“Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia violentamente”.
E, ali, aconteceu um encontro extraordinário, entre Deus e o homem:
“Descendo o Senhor sobre o monte Sinai, sobre o cume do monte, chamou o Senhor a Moisés ao cume do monte; e Moisés subiu” (Ex 19:18-20).
E, assim, por isso, subimos, ascendemos à Torá, à consciência ordenadora e misteriosa de Deus. Fisicamente, espiritualmente, existencialmente. Reproduzindo o movimento de Moisés.
Foi assim, naquele momento singular, como é aqui, neste Grande Templo, neste momento sagrado, como também o é em outros momentos da existência, nos quais nossa consciência se eleva da fragmentação para a Eternidade, das nossas misérias para nossas grandezas, do mero interesse para a ternura e o amor.
Nestes momentos escutamos e vivemos os mandamentos de Deus.
Os mandamentos de Deus são mandamentos morais e éticos, de conduta, de comportamento, de atitude espiritual. Os Dez Mandamentos contém em si os valores mais fundamentais que devem presidir as nossas ações. Necessários para avançarmos na direção de Deus e consolidarmos nosso compromisso.
Neles, Deus, aquele que nos tirou da terra do Egito, e nos conduziu para as colinas de Canaã, se apresenta como nosso único Deus.
Não nos curvamos a qualquer outra entidade que não seja essa força misteriosa que sustenta o universo, a vida e a natureza.
Seus mandamentos nos apontam a humildade diante do mundo, a necessária aceitação de sua realidade.
Devemos respeitar nossos pais, nossos ancestrais, reconhecendo o valor da experiência que a tradição consolida.
Nos Mandamentos está também o da observância do Shabat, este momento de introspecção e descanso, no qual nos retiramos do tumulto das ilusões do mundo e nos dedicamos à grandeza de Deus, ao mistério da Eternidade, à nossa essência.
E, ainda mais: os Mandamentos nos dizem que é o próximo, sua preservação, sua dignidade, mais importante que nossos desejos e vontades. O outro, o próximo, é maior do que eu.
Pelos Mandamentos, é o bem comum o limite para a expansão dos nossas ansiedades individuais: um horizonte moral sagrado.
Neste mundo em que vivemos, no qual não há limites morais ao que pode ser feito, onde os direitos são mais relevantes que os valores, tal experiência é redentora.
A fala de Deus, no Sinai, aqui, e dentro das nossas almas, recoloca-nos na nossa devida dimensão, nossas paixões nos seus devidos lugares.
Estabelece que a harmonia social deve ser mais relevante que o conflito e a ambição, e o amor e a concórdia mais significativos que o ódio e a disputa.
E diz Deus ao povo que aceitando essas leis podemos estabelecer com Ele essa relação de harmonia, que eleva a nossa consciência e nos dá a prosperidade da alma: a proximidade do sagrado.
Fundamento de toda literatura bíblica e rabínica, de todo direito ocidental, os dez mandamentos de Deus nos convidam à paz interior e exterior, à humildade, ao equilíbrio.
Nos convidam ao amor, à felicidade e à paz.
Shabat Shalom!
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